A agricultura global enfrenta um desafio sem precedentes: produzir 70% mais alimentos até 2050 para atender a uma população que deve atingir 10 bilhões de pessoas, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU). Diante dessa demanda crescente, o setor agrícola, que depende de grandes áreas de terra fértil, encontra-se no centro de um dilema: como expandir a produção sem comprometer ainda mais o meio ambiente?
De acordo com o Laboratório de Análise e Descoberta de Terras Globais da Universidade de Maryland, a cobertura florestal mundial perdeu 3,7 milhões de hectares em 2023 — o equivalente à destruição de dez campos de futebol por minuto. É nesse contexto que as fazendas verticais despontam como uma alternativa promissora para enfrentar os desafios da produção sustentável.
O que são fazendas verticais?
Fazendas verticais são estruturas altamente automatizadas e verticalizadas, onde plantas alimentícias são cultivadas em prateleiras empilhadas. Esses espaços fechados, semelhantes a edifícios, oferecem um ambiente controlado, no qual temperatura, umidade e iluminação são reguladas de forma precisa e automatizada. Segundo Leonardo Wedderhoff Herrmann, coordenador do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade Positivo (UP), essa abordagem reduz em praticamente 100% as perdas causadas por pragas e variações climáticas.
“Com o controle total das condições de cultivo, o desperdício é minimizado, e o impacto ambiental é significativamente reduzido”, afirma Herrmann.
Vantagens das fazendas verticais
Comparadas aos métodos agrícolas tradicionais e até mesmo às estufas convencionais, as fazendas verticais oferecem benefícios impressionantes:
- Uso eficiente da terra: Demandam menos espaço, o que permite sua instalação em áreas urbanas ou em regiões de solo inadequado para cultivo.
- Redução no consumo de água: O sistema fechado e a irrigação automatizada utilizam até 95% menos água do que a agricultura tradicional.
- Menor impacto ambiental: Não dependem de equipamentos pesados, reduzem o uso de pesticidas e fertilizantes e diminuem o desperdício de recursos.
- Maior produtividade: Podem alcançar índices de produção superiores, uma vez que o cultivo pode ocorrer durante todo o ano, sem depender de condições climáticas externas.
Além disso, Herrmann destaca que as fazendas verticais podem contribuir para a mitigação do efeito estufa: “É possível ajustar o processo para que as plantas absorvam mais gás carbônico, ajudando a reduzir a concentração desse gás na atmosfera.”
Os desafios e limitações
Embora promissoras, as fazendas verticais não são isentas de desafios. O custo inicial de implementação e a manutenção são os maiores entraves. “As instalações exigem sistemas de controle climático, iluminação artificial e tecnologias de irrigação sofisticadas, o que demanda investimentos significativos”, explica Herrmann. Além disso, há um debate sobre o valor nutricional dos alimentos produzidos nesse ambiente.
“O cultivo em sistemas hidropônicos, sem a presença de solo, pode resultar em alimentos com menor valor nutricional, já que os nutrientes precisam ser fornecidos de forma artificial. Isso encarece o processo e pode impactar a qualidade final dos produtos”, alerta o especialista.
Apesar dessas limitações, as fazendas verticais não foram projetadas para substituir completamente os métodos agrícolas tradicionais, mas para complementá-los. Herrmann reforça que o objetivo é reinterpretar o cultivo, promovendo práticas mais sustentáveis e adaptadas ao cenário urbano. “A grande maioria dos produtores ainda é composta por pequenos agricultores, que não possuem infraestrutura para adotar essa tecnologia. As fazendas verticais são uma alternativa para ampliar a produção de alimentos, mas não substituem a agricultura tradicional.”
O futuro da agricultura
Diante da previsão de crescimento populacional e da necessidade urgente de práticas mais sustentáveis, as fazendas verticais oferecem uma solução inovadora e viável. Elas representam um passo importante para aumentar a eficiência agrícola e reduzir a pressão sobre os recursos naturais, especialmente em áreas densamente povoadas ou de difícil acesso.
Embora ainda enfrente desafios de custo e acessibilidade, esse modelo pode desempenhar um papel crucial na busca por um equilíbrio entre produtividade e sustentabilidade, ajudando o setor agrícola a atender às demandas do futuro sem comprometer o planeta.
Como conclui Herrmann, “o futuro da agricultura não está em escolher entre métodos tradicionais e novas tecnologias, mas em integrar ambas as abordagens para alimentar a humanidade de forma eficiente e sustentável.”