O agronegócio brasileiro, uma potência mundial, está passando por um período de adaptação forçada e necessária. A crescente demanda por sustentabilidade e bem-estar animal tem redefinido as regras do jogo, especialmente no cenário global de exportação de proteína animal. De acordo com Marcel Moreira, diretor do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), esses fatores deixaram de ser tendências e se consolidaram como requisitos.
“O bem-estar animal está profundamente ligado à qualidade do produto, à segurança alimentar e ao alinhamento com as expectativas do consumidor global. É preciso olhar para isso como uma estratégia de competitividade e sobrevivência no mercado”, afirmou Moreira: “Bem-estar Animal em uma Nova Era de ESG”, realizado no dia 10 de dezembro pela Colaboração Brasileira de Bem-Estar Animal (COBEA).
O evento reforçou que práticas alinhadas ao ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance) não são apenas demandas éticas, mas também oportunidades estratégicas. Países e empresas que não se adaptam a essa realidade correm o risco de perder espaço no mercado internacional.
O papel do bem-estar animal na competitividade global
João Paulo Camarinha Figueira, presidente da COBEA e gerente de Desenvolvimento Sustentável da Special Dog Company, destacou como a dinâmica do mercado já mudou: “A qualidade deixou de ser o principal diferencial entre os grandes players. Sustentabilidade e bem-estar animal são os verdadeiros drivers de mercado. As novas gerações buscam ética, e isso influencia diretamente as decisões de compra.”
O mercado de pet food exemplifica bem essa transformação. A busca por produtos que sigam princípios sustentáveis e respeitem o bem-estar animal está crescendo rapidamente. Segundo Figueira, alinhar esses valores com a cadeia produtiva é uma questão que vai além do propósito ético: é uma necessidade para garantir longevidade e oportunidades de negócio.
Resultados concretos e riscos na cadeia de suprimentos
Elisa Tjarnstrom, diretora-executiva da COBEA, trouxe à tona a urgência de resultados práticos, indo além dos discursos: “As empresas precisam focar na entrega de resultados efetivos. Compromissos vazios não sustentam a pressão atual do mercado global. Relatórios de sustentabilidade exigem números e práticas concretas.”
Ela ressaltou que ignorar problemas na cadeia de suprimentos representa riscos sérios, como:
- Exposição a doenças infecciosas;
- Dependência do uso excessivo de antibióticos;
- Perda de competitividade e reputação em mercados exigentes.
Antecipar essas mudanças é uma estratégia mais econômica e segura. Tjarnstrom, exemplificou que a adaptação retrospectiva a novas regulamentações pode custar significativamente mais do que investimentos preventivos.
Para Elisa, a colaboração entre os elos da cadeia produtiva é essencial para resolver desafios e evitar conflitos de interesse. “Trabalhando juntos, conseguimos alinhar expectativas, compartilhar custos e mitigar riscos financeiros. Esse movimento fortalece a resiliência do setor.”
José Ciocca, diretor-executivo da startup Produtor do Bem, reforçou a importância da democratização das práticas de bem-estar animal em todos os níveis produtivos, especialmente no Brasil, onde coexistem grandes e pequenos produtores. “Certificações de bem-estar animal não podem mais ser vistas como um nicho. Elas devem ser indispensáveis para todos os elos da cadeia alimentar.”
Segundo ele, o protagonismo do Brasil no cenário global depende do compromisso genuíno de todo o setor: “Precisamos mostrar que nossa produção em larga escala não exclui responsabilidade socioambiental.”
O Brasil como protagonista global em ESG
O cenário atual exige que o agronegócio brasileiro integre práticas sustentáveis com rapidez e eficiência. A pressão por transparência, relatórios detalhados e práticas concretas não vem apenas de consumidores, mas também de investidores internacionais que priorizam empresas com boas práticas ESG.
O bem-estar animal não é mais uma opção; é uma exigência que afeta diretamente a exportação, a competitividade e a imagem do Brasil como líder global em produção sustentável.
Investir em inovação, colaboração e prevenção é o caminho para que o agronegócio brasileiro se fortaleça frente às novas demandas do mercado mundial, consolidando sua posição como referência em ética, sustentabilidade e qualidade.