Os estoques de café na União Europeia registraram um avanço significativo nos últimos meses, conforme indica o último relatório da Federação Europeia de Café (ECF). Com o aumento das importações, especialmente das variedades robusta e arábica lavado, a região tenta se recuperar dos baixos níveis históricos observados no início de 2024. Segundo dados recentes, o estoque total alcançou 8,85 milhões de sacas em agosto, após atingir apenas 6,4 milhões de sacas em março – o menor nível em décadas. No entanto, ainda permanece abaixo da média histórica e dos níveis registrados em 2022 e 2023.
“Houve uma recuperação de todos os tipos de café, mas especialmente do robusta e do arábica lavado, em consonância com o aumento das importações da América Central, África Oriental e Brasil entre abril e agosto, origens que exportam estas qualidades de grãos,” explica Laleska Moda, analista de Café. Apesar disso, ela destaca que os estoques europeus dificilmente voltarão aos níveis médios de longo prazo, já que o consumo na região tem mostrado uma recuperação consistente, mas limitada.
Desde o início de 2024, as importações de café na Europa aumentaram em resposta à baixa nos estoques e à entrada em vigor do Regulamento Europeu de Deforestation-Free (EUDR). Esse regulamento impulsionou a compra de café brasileiro, uma vez que outras regiões enfrentaram dificuldades de produção, especialmente para a variedade robusta. “As importações de robusta, por exemplo, mantiveram-se acima dos níveis médios durante o primeiro semestre de 2024, contribuindo diretamente para a recuperação dos estoques,” destaca Laleska Moda.
Os dados do relatório revelam que o segundo e o terceiro trimestres de 2024 apresentaram volumes de importação superiores aos anos anteriores, indicando um crescimento contínuo na taxa de importações de café na região. A tendência pode se manter no quarto trimestre, uma vez que parte do café já foi adquirida antes do anúncio de adiamento do EUDR. No entanto, a demanda consistente por café na União Europeia continua sendo um fator que pode restringir uma recuperação total dos estoques.
“Vale lembrar que o consumo aparente de café na UE ainda está acima dos níveis médios, com 40,4 milhões de sacas consumidas na temporada 23/24, embora ainda abaixo do total registrado em 2022/2023,” pontua Moda. Além disso, com o inverno se aproximando no Hemisfério Norte, há uma tendência natural de aumento no consumo de café, o que pode intensificar a demanda e limitar a recuperação de estoques.
A perspectiva climática também exerce influência sobre o mercado. No Brasil, maior produtor mundial de arábica, as recentes chuvas indicam uma possível melhoria para a colheita futura. “O spread do robusta estava em níveis recordes, mas o aumento da oferta, com a recuperação dos estoques e a colheita iminente no Vietnã, trouxe certa tranquilidade ao mercado,” completa a analista. No entanto, o spread do arábica indica certa cautela devido à expectativa ainda incerta para a safra 2025/2026 no Brasil.
Ao mesmo tempo, as exportações globais de robusta e a resistência do consumo na UE indicam que, embora uma recuperação significativa tenha ocorrido, o retorno aos níveis médios de estoque enfrenta desafios. Em resumo, o cenário permanece delicado: enquanto as importações sustentam uma melhora gradual nos estoques europeus, a demanda constante e as variáveis climáticas sugerem que o mercado de café na UE ainda tem um caminho a percorrer para alcançar estabilidade.