As queimadas que devastam áreas agrícolas em diversas regiões do Brasil têm causado sérias preocupações, não apenas no âmbito ambiental, mas também no econômico. Com a destruição de pastagens e plantações, produtos alimentícios fundamentais, como carne, leite, hortaliças e frutas, correm o risco de sofrer aumentos expressivos nos preços. O cenário se agrava, principalmente, no caso das carnes, afetadas pela alíquota zero que havia sido adotada pelo governo como estratégia para frear a alta dos preços. Contudo, essa medida agora enfrenta desafios significativos, tornando incerto o controle da inflação nos próximos meses.
Segundo o empresário Gustavo Defendi, especialista com mais de duas décadas de experiência no setor alimentício, a alíquota zero ajudou a manter os preços das carnes sob controle temporariamente. Porém, com as recentes queimadas que devastaram áreas de produção, esse controle pode ser comprometido. “A devastação das áreas de pastagem eleva os custos de produção, e isso vai acabar sobrepondo os benefícios da alíquota zero. Podemos ver aumentos significativos não apenas nas carnes, mas em outros itens alimentares, como leite e derivados, frango, hortaliças e frutas, se o problema persistir”, alerta Defendi.
Impacto direto no setor de carnes
A produção de carne bovina, suína e de frango, que já vinha enfrentando desafios devido à alta demanda, agora se vê ameaçada pela redução da oferta. A destruição das pastagens limita a capacidade dos pecuaristas de manter a produção nos níveis anteriores, pressionando o mercado a buscar alternativas que, muitas vezes, se traduzem em elevações de preço para o consumidor final. “Com a demanda em alta e a oferta limitada, a alíquota zero pode perder sua eficácia como ferramenta de estabilização de preços. O custo de reposição dos estoques tende a aumentar consideravelmente”, afirma o especialista.
Estudos recentes apontam que, com a continuidade das queimadas, os preços das carnes podem subir até 15% nos próximos meses, impactando diretamente o custo de vida das famílias brasileiras, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social. Além disso, a escassez de produtos como o leite, hortaliças e frutas também eleva os custos no mercado, agravando a pressão inflacionária.
Para Defendi, a solução do problema passa por uma abordagem integrada, com políticas públicas de prevenção e combate às queimadas, além de incentivos ao manejo sustentável das áreas de produção. “Precisamos de uma fiscalização mais rígida para controlar as queimadas ilegais e o uso de tecnologias agrícolas que tornem as pastagens mais resilientes. O desmatamento desenfreado afeta não apenas a produção, mas também a fertilidade do solo e o equilíbrio climático, o que encarece ainda mais o custo de produção”, explica.
Outro aspecto levantado pelo especialista é a necessidade de parcerias entre o setor privado e o governo para fomentar práticas sustentáveis e garantir o abastecimento de alimentos essenciais. A implementação de técnicas agrícolas avançadas e a restauração de áreas degradadas podem ser caminhos para mitigar os efeitos das queimadas no médio e longo prazo.
Consequências para o mercado interno e externo
Além dos impactos diretos no mercado interno, a redução da oferta de carnes e outros produtos agrícolas também pode afetar a posição do Brasil no comércio internacional. O país, que é um dos maiores exportadores de carne do mundo, pode enfrentar dificuldades em cumprir contratos com parceiros comerciais, agravando ainda mais o cenário econômico.
Em meio a essa crise, o Governo Federal já discute a possibilidade de revisitar as políticas de incentivo ao setor agropecuário, visando fortalecer a produção interna e assegurar a manutenção dos preços para a população. “Se nada for feito, enfrentaremos um ciclo de escassez que trará sérios impactos para o mercado de alimentos, afetando diretamente os consumidores e aumentando o custo da cesta básica”, finaliza Defendi.
A expectativa agora recai sobre a capacidade de reação do governo e dos produtores para controlar a crise desencadeada pelas queimadas. Enquanto a alíquota zero foi uma medida eficaz a curto prazo, os desafios para manter os preços sob controle são cada vez maiores. O setor alimentício, especialmente as carnes, enfrentará um período de instabilidade, com potencial para aumentar a inflação e afetar o poder de compra das famílias brasileiras.
As queimadas, portanto, não são apenas uma tragédia ambiental, mas também um alerta para os riscos econômicos e sociais que a falta de controle sobre o desmatamento e a devastação de áreas produtivas pode gerar. O caminho para evitar o colapso dos preços passa por ações coordenadas e sustentáveis, que protejam tanto o meio ambiente quanto a economia.