A aquicultura, vista por muitos como uma das grandes promessas para o futuro da produção de alimentos no Brasil, enfrenta desafios consideráveis, mas também se abre para vastas oportunidades de crescimento. Em recente reunião da Comissão Técnica de Aquicultura da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), foram destacadas questões cruciais para o desenvolvimento sustentável do setor. O coordenador da comissão, Martinho Colpani Filho, ressaltou a importância de tratar a aquicultura não como uma alternativa, mas como uma atividade econômica viável e geradora de renda para os produtores.
“A viabilidade econômica da aquicultura é fundamental para que o produtor possa investir com segurança e estruturar um projeto sólido de produção e comercialização”, enfatizou Colpani. Muitos produtores entram no setor sem um planejamento adequado, o que compromete a rentabilidade e sustentabilidade do negócio. Para Colpani, é essencial que os aquicultores compreendam todos os processos, desde a criação até a venda, especialmente para as indústrias de processamento.
Potencial de expansão e necessidade de modernização
O mercado brasileiro de pescados ainda é fortemente abastecido por importações, o que evidencia um potencial inexplorado para a produção nacional. “Há um potencial muito grande para que possamos aumentar a produção e abastecer o país com produtos de qualidade”, afirmou Colpani. Contudo, ele alerta que é preciso avançar em questões cruciais, como a legislação específica para a aquicultura e a criação de arranjos produtivos que integrem cooperativas, indústrias de processamento, frigoríficos e uma produção robusta.
A modernização da legislação é uma das principais bandeiras da Comissão Técnica. A legislação atual não diferencia adequadamente entre a pesca em ambientes naturais e a produção de pescados em ambientes controlados, como tanques e viveiros. Esse fator limita o desenvolvimento do setor e impede que os produtores aproveitem plenamente o potencial da aquicultura. Além disso, a criação de arranjos produtivos que aproximem todos os elos da cadeia é vista como um passo fundamental para garantir a rentabilidade do produtor e a competitividade do setor.
Educação e gestão como pilares do crescimento
Outro ponto central das discussões foi a necessidade de capacitar os produtores não apenas nas técnicas de produção, mas também na gestão e comercialização do negócio. Nesse aspecto, a participação do Senar-SP é considerada essencial. “Estamos estimulando os sindicatos rurais paulistas a desenvolverem projetos que combinem ensino técnico com gestão e comercialização”, afirmou Colpani.
A proposta de incluir o peixe na merenda escolar é outro exemplo de como a aquicultura pode ser integrada de forma mais ampla nas políticas públicas, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores. “Será uma conquista para os produtores e um ganho em qualidade de proteína para os estudantes”, destacou o presidente da Faesp, Tirso Meirelles. O objetivo é fazer com que a aquicultura paulista ocupe um lugar de destaque, seguindo o exemplo de outros estados que já avançaram nesse sentido.
Produção em números
Em 2023, a produção de pescados em ambientes confinados no estado de São Paulo alcançou cerca de 69.800 toneladas. Esse volume foi predominantemente composto por tilápia, que continua sendo a espécie mais cultivada no estado, contribuindo significativamente para que o Brasil mantenha sua posição como o quarto maior produtor mundial dessa espécie. Além da tilápia, outras espécies como o panga também apresentaram crescimento notável, ocupando um espaço crescente no mercado local.
O caminho para a expansão da aquicultura em São Paulo passa por enfrentar os desafios regulatórios, fomentar arranjos produtivos eficientes e garantir a capacitação dos produtores. Com essas medidas, o setor tem tudo para prosperar, oferecendo produtos de qualidade e contribuindo para a segurança alimentar do país.
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