Esta semana, o mundo dos negócios do café foi sacudido por movimentos significativos nos preços, particularmente no Brasil, onde os valores do conilon/robusta ultrapassaram a marca impressionante de R$ 1.000 por saca.
Enquanto os preços do arábica seguiram uma trajetória semelhante, o conilon experimentou um suporte mais substancial, resultando em um spread mais estreito entre as duas variedades, fixando-se em R$ 80/sc.
No epicentro dessa agitação financeira está o mercado brasileiro de conilon para a safra 24/25, em meio aos persistentes déficits globais de robusta e aos desenvolvimentos da safra 24/25 no Vietnã.
Os spreads entre o arábica em Nova Iorque e o robusta em Londres, embora tenham demonstrado tendências gerais semelhantes, revelaram um movimento mais vigoroso em favor do arábica ao longo da semana.
O potencial do arábica para compensar a escassez de robusta levanta questões cruciais sobre a arbitragem entre Nova Iorque e Londres, aproximando-se perigosamente da marca de 30 cêntimos por libra-peso. Na próxima semana, os observadores do mercado estarão atentos a esse equilíbrio delicado, pois os dois principais produtores de café continuam sob escrutínio em relação à oferta da safra 24/25 – um indicador vital dos níveis de arbitragem.
Segundo Natália Gandolphi, analista de café da hEDGEpoint, “É fundamental observar o movimento dos preços do conilon: a variedade ultrapassou a marca dos R$ 1.000,00/sc, e, embora o arábica tenha seguido uma trajetória semelhante, o suporte foi mais robusto para o conilon. Consequentemente, o spread entre os dois tipos de café diminuiu para R$ 80/sc – um fenômeno que não pode ser subestimado, dado que o spread já se inverteu brevemente durante o ciclo 16/17, durante a quebra de safra no Brasil”.
Enquanto isso, os movimentos do mercado indicam uma necessidade iminente de explorar o suprimento de arábica para compensar a lacuna deixada pelo robusta.
“A questão que permanece é: qual é o limite? Nesse sentido, precisamos monitorar de perto a tendência de arbitragem entre o arábica de Nova Iorque e o robusta de Londres. A arbitragem se aproximou da marca de 30 cêntimos por libra-peso e começou a se corrigir – esse nível permanecerá relevante no futuro. Além disso, é importante notar que a arbitragem entre os contratos de setembro teve mais força em comparação com os contratos de julho no último trimestre”, destaca a analista.
Os spreads individuais também tiveram desenvolvimentos significativos que merecem atenção: enquanto os spreads N4-U4 do arábica e do robusta mostraram tendências semelhantes, especialmente no acumulado do ano, o movimento recente foi mais pronunciado para o arábica. Esta semana, o spread do robusta N4-U4 subiu de 90 USD/mt para 95 USD/mt (+6%), enquanto o spread do arábica aumentou de 0,7 cêntimos por libra-peso para 0,85 cêntimos por libra-peso (+21%).
“Ainda é cedo para identificar uma mudança sólida na estrutura do mercado, especialmente devido à proximidade do desenvolvimento da safra 24/25 do Vietnã durante um El Niño ainda ativo – mostrando a possibilidade de chuvas abaixo da média até a terceira semana de abril. No entanto, o aumento das importações de arábica pelos destinos tradicionais é notável. O movimento mais acentuado foi observado na União Europeia, com um aumento de 58% para 70% na média móvel de três meses encerrada em setembro de 2023, alcançando 86% em janeiro, o último ponto de dados disponível nos Estados Unidos, e atingindo o pico em dezembro no Japão”, observa.
À medida que os mercados globais de café continuam a evoluir, as oscilações de preços e os movimentos do mercado destacam a interconectividade complexa entre os diversos fatores que influenciam essa commodity vital. Com os principais produtores de café no centro das atenções, os próximos passos dessas potências globais serão cruciais para moldar o panorama futuro do café.