Na pecuária, um tema que há tempos permeia as conversas agora é alvo de uma reviravolta esclarecedora. O tão discutido “ganho compensatório”, apontado como vantajoso para animais submetidos à restrição alimentar na recria, está sendo questionado por especialistas em nutrição animal e pesquisadores da Universidade Paulista (Unesp). Em uma virada surpreendente, a nutrição equilibrada emerge como a chave para otimizar o rendimento e a qualidade da carne, desafiando crenças estabelecidas.
Segundo Klaus Severino e Lima, supervisor técnico da empresa de nutrição, a crença anterior de que animais sujeitos à restrição alimentar teriam vantagens na terminação agora é posta em cheque. Em uma abordagem estratégica, Lima enfatiza que o foco deve ser um manejo nutricional equilibrado desde a recria até a terminação do gado, garantindo um processo de produção eficiente e, o mais importante, maximizando a eficiência na conversão do alimento em carne de alta qualidade.
O supervisor técnico destaca: “O que antes se acreditava ser uma vantagem, passou a se mostrar como um prejuízo no momento final da pesagem dos animais, já no frigorífico. Focar em uma estratégia de nutrição que maximize o ganho não apenas na terminação, mas também na recria, pode ser mais vantajoso para a produção eficiente da carcaça, o que ressalta a importância de um manejo nutricional equilibrado e estratégico ao longo das diferentes fases de crescimento do gado.”
Os resultados de uma pesquisa conduzida pela Unesp, intitulada “Influência da Nutrição na Recria X Terminação”, reforçam essa visão inovadora. O estudo envolveu 64 bovinos Nelore, avaliando diferentes taxas de ganho de peso e ofertas de forragem. Contrariando as expectativas, animais com baixa taxa de ganho na recria, terminados com alta oferta de forragem, apresentaram ganho de vísceras, não de carcaça, contestando as vantagens da restrição alimentar na recria e o subsequente ganho compensatório.
Klaus Severino, comenta sobre a pesquisa: “Os animais submetidos à restrição alimentar apresentam melhor eficiência alimentar como resultado da ampliação na digestão e redução do tamanho das vísceras. No entanto, após o período de restrição, ocorre um maior consumo, restabelecendo os órgãos que estavam menores devido à restrição. Portanto, os resultados destacam a importância de ter animais mais pesados entrando na terminação.”
Em suma, a pesquisa sugere que priorizar uma maior taxa de ganho tanto na recria quanto na terminação, evitando restrição nutricional durante a recria, pode ser a chave para um processo eficiente de produção de carne. A era do “ganho compensatório” está sendo questionada, e a nutrição estratégica surge como o caminho para aprimorar a qualidade e a eficiência na pecuária moderna.