As recentes variações climáticas extremas têm lançado um desafio inédito ao setor agrícola, afetando diretamente a produção, armazenamento e venda de verduras, frutas e hortaliças. O calor intenso, seguido por quedas bruscas de temperatura, tem gerado uma vulnerabilidade inédita nessas culturas, resultando em impactos significativos em toda a cadeia, desde os produtores até os consumidores finais.
A análise de Felipe Reis, analista de safra, destaca que essa oscilação climática, nunca antes vista, está deixando os alimentos frescos mais susceptíveis a perdas em todas as etapas da cadeia de suprimentos. Os efeitos desse cenário refletem-se diretamente nos preços, na qualidade e no desperdício desses produtos essenciais.
O aumento da inflação, especialmente no subgrupo alimentação no domicílio, evidencia os desafios enfrentados pelo setor. Dados do IBGE revelam um incremento de 1,34% em dezembro, destacando produtos como batata-inglesa, feijão-carioca, arroz e frutas. O IPEA projeta uma safra 2,8% menor em relação a 2023, impactada pelos efeitos do El Niño. Com as ondas de calor previstas para os primeiros meses de 2024, as projeções apontam para aumentos de 3,9% no IPCA e de 4,1% no INPC.
O especialista, alerta para a situação crítica no Mato Grosso, onde o índice de vegetação indica uma evolução desfavorável, apontando para a pior quebra de safra em 15 anos. A estimativa é de uma redução de 15% na produtividade, comparada à tendência histórica. Em Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná, as projeções também apontam para quebras significativas.
A aceleração do amadurecimento das frutas devido às altas temperaturas é um dos principais desafios enfrentados pelos agricultores. O ciclo mais curto de vida dos produtos impacta diretamente na logística, exigindo maior agilidade e adaptação nas etapas de transporte e armazenamento. Diante desse cenário, estratégias inovadoras tornam-se cruciais para minimizar as perdas.
Aline Azevedo, diretora de produtos da empresa de gestão de estoque e perdidos no setor varejista, destaca a importância de considerar variáveis como clima, histórico de vendas, datas comemorativas e indicadores econômicos na tomada de decisões. Essa abordagem inteligente visa reduzir simultaneamente o desperdício e a falta de produtos, maximizando os lucros para os varejistas.
O desperdício de alimentos, segundo a FAO, atinge mais de 45% de todas as frutas e legumes produzidos globalmente. Em um momento de variabilidade climática extrema, a necessidade de soluções específicas para o setor agrícola torna-se evidente.
Em um cenário planetário crítico, onde as variabilidades climáticas tendem a se intensificar, a gestão inteligente de alimentos frescos emerge como uma peça fundamental para a sustentabilidade do agronegócio. A combinação de tecnologia avançada, análise de dados e ação proativa é a chave para enfrentar os desafios climáticos e garantir a oferta contínua de alimentos de qualidade para a população.