Este ano, os agricultores brasileiros estão enfrentando um cenário climático bem diferente do que estavam acostumados nos últimos tempos. Após três safras sob a influência do fenômeno La Niña, o El Niño chegou em 2023 com força total, trazendo previsões nada convencionais, como chuvas acima da média e temperaturas elevadas em algumas regiões.
O El Niño costuma ser visto com bons olhos nas regiões produtoras de grãos do centro-sul do Brasil. Com chuvas bem distribuídas e acima da média, os agricultores geralmente conseguem colher resultados melhores em comparação com os anos dominados pelo La Niña, quando as estiagens são uma preocupação constante.
Porém, nem tudo são flores nesse novo cenário. A característica do El Niño é a sua imprevisibilidade, e essa instabilidade vem causando eventos climáticos extremos por todo o país. Ciclones extratropicais e tempestades têm sido frequentes no hemisfério sul, enquanto no hemisfério norte, temperaturas recordes transformaram o último verão no mais quente da história.
Daniel de Pauli, head de sinistros de seguros, ressalta que, apesar dos desafios, tanto os produtores quanto as seguradoras estão encarando a situação com responsabilidade. O seguro agrícola continua sendo uma ferramenta essencial para garantir o desenvolvimento econômico sustentável e o crescimento do mercado de seguros e resseguros.
É importante lembrar que recentemente o setor de seguros precisou pagar uma quantia significativa em indenizações devido às perdas nas safras causadas pela estiagem prolongada no Sul do Brasil. A Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) informou que, em 2022, foram desembolsados R$ 10,5 bilhões em indenizações, um aumento de 47,1% em relação ao ano anterior.
Pauli enfatiza que, mesmo com a previsão de chuvas no Sul, a irregularidade climática ainda é motivo de cautela. Em regiões isoladas, podem ocorrer veranicos com períodos atípicos de seca e altas temperaturas, capazes de comprometer a produtividade, especialmente em momentos cruciais do desenvolvimento das lavouras. Portanto, a falsa sensação de segurança diante de um evento incerto como o El Niño deve ser tratada com cuidado.
Essa mesma irregularidade se aplica a outras regiões do país. Enquanto o El Niño pode trazer um excesso de chuvas para o Sul e Sudeste, ele tem o efeito oposto no Norte e Nordeste, aumentando o risco de estiagens prolongadas. Em resumo, o El Niño, embora traga a promessa de alívio para algumas áreas, mantém os agricultores alerta diante de sua imprevisibilidade.