Você já imaginou que o esgoto, sim, aquele que geralmente preferimos não pensar, poderia ser a chave para uma agricultura mais sustentável e produtiva? Bem, parece que pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ/USP) estão transformando essa ideia em realidade. Resultados preliminares de uma pesquisa estão mostrando que o fertilizante organomineral feito com lodo de esgoto (FOM-LE) pode ser tão eficaz quanto os adubos minerais tradicionais na nutrição das plantas.
Mas isso não é tudo. Além de ser uma alternativa eficaz, o FOM-LE também traz benefícios ambientais significativos. Ele pode representar uma economia para os produtores rurais, permitindo a reciclagem de nutrientes e matéria orgânica nas áreas agrícolas. Além disso, há evidências de que o uso desse fertilizante tem o potencial de substituir total ou parcialmente os adubos minerais em regiões como o Cerrado, enquanto melhora a qualidade do solo.
A pesquisa está sendo orientada pela professora Dra. Jussara Borges Regitano, do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, e conta com a participação de doutorandos, estudantes de graduação e parcerias estratégicas. O projeto está em seu segundo ano de pesquisa de campo, realizando cultivos sucessivos de soja e milho safrinha na Fazenda de Ensino, Pesquisa e Extensão da UNESP, em Selvíria-MS.
Os pesquisadores estão testando diferentes formas físicas do adubo (farelada, peletizada e granulada) e doses do FOM-LE, comparando sua eficácia agronômica com a fertilização estritamente mineral. Eles também estão avaliando a fertilidade do solo, os níveis de nutrientes nas plantas, o efeito residual, a presença de metais pesados e o impacto sobre a qualidade do solo.
Na primeira semana de abril, eles colheram a soja na área experimental e realizaram análises químicas e biológicas para avaliar o desempenho do FOM-LE. Atualmente, estão processando os dados para interpretar os resultados. O plantio do milho safrinha foi feito em maio, seguindo as recomendações oficiais para a região, e eles esperam colhê-lo em setembro.
Os pesquisadores acreditam que os resultados desta pesquisa poderão influenciar políticas públicas e promover o uso sustentável do lodo de esgoto na produção de fertilizantes. Fernando Carvalho Oliveira, engenheiro agrônomo e responsável técnico pelos fertilizantes da Tera Nutrição Vegetal, que apoia o estudo, enfatiza que o uso de lodos de esgoto para fazer adubos orgânicos traz vantagens econômicas, ambientais e agrícolas, contribuindo para uma agricultura mais sustentável e eficiente.
Portanto, quem diria que o esgoto poderia ser uma fonte valiosa de fertilizante? Esta pesquisa mostra que a inovação e a sustentabilidade estão se unindo para transformar o modo como cultivamos nossos alimentos, tornando-o mais amigo do meio ambiente e da economia dos agricultores.