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MERCADO DO BOI

Alta nos custos desafia confinamento de bovinos mesmo com safra recorde no país

Índice de Custo Alimentar Ponta (ICAP) sobe em março e revela pressão dos insumos na engorda intensiva, apesar da expectativa de alívio com a nova safra; arroba valorizada sustenta perspectivas positivas de lucro
Arroba valorizada sustenta otimismo, apesar da pressão dos custos nutricionais em março. Foto: Divulgação.

Março de 2025 trouxe um alerta aos pecuaristas brasileiros que atuam na engorda intensiva de bovinos. Apesar das expectativas de redução nos custos alimentares com a chegada da nova safra de grãos, o Índice de Custo Alimentar Ponta (ICAP) voltou a subir, revelando uma conjuntura mais complexa do que o previsto.

O ICAP, indicador que mede o custo médio da dieta de terminação por tonelada de matéria seca, registrou R$ 13,91 no Centro-Oeste e R$ 13,27 no Sudeste, com altas de 1,16% e 5,07%, respectivamente, em comparação com fevereiro. Historicamente, março costuma apresentar elevação nos custos devido ao fim da entressafra, mas a surpresa veio após uma leve queda em fevereiro, interpretada por muitos como reflexo da antecipação da safra 2024/25, o que não se confirmou.

Segundo o Report de Confinamento da Ponta, que acompanha o comportamento do ICAP e os preços médios praticados pelos produtores atendidos, mesmo com a previsão de safra recorde de grãos no Brasil, os preços dos principais insumos utilizados na alimentação dos animais continuaram subindo. A explicação está nos estoques apertados e na demanda firme — tanto no mercado doméstico quanto nas exportações.

Centro-Oeste: pressão da casca de soja e da torta de algodão

No Centro-Oeste, o custo da dieta de terminação alcançou R$ 1.275,39 por tonelada de matéria seca. Os alimentos energéticos apresentaram aumento de 2,93%, com destaque para a casca de soja, que subiu 10,76%, e o milho grão seco, com alta de 4,80%. Já entre os alimentos proteicos, a torta de algodão teve elevação expressiva de 13,27%, enquanto o caroço de algodão subiu 4,19%.

Essa escalada também impactou os subprodutos da produção de etanol de milho, amplamente utilizados na região: o WDG (Wet Distillers Grains) subiu 6,93%, e o DDG (Dried Distillers Grains) teve alta de 4,78%.

Sudeste: maior pressão dos proteicos

No Sudeste, os custos também cresceram de forma significativa. O valor da tonelada de matéria seca foi estimado em R$ 1.263,51, com elevações nos alimentos energéticos (+6,62%) e proteicos (+11,21%). Os principais vilões foram o sorgo grão seco, com alta de 10,51%, a casca de soja (+9,15%) e o milho grão seco (+8,00%).

Esses movimentos reforçam um cenário de pressão sobre os custos em ambos os polos produtivos, independentemente da colheita em andamento.

Comparativo anual revela nova dinâmica de mercado

Ao confrontar os dados de março de 2025 com os de março de 2024, observa-se uma queda de 8,43% no custo nutricional da engorda no Centro-Oeste e um aumento de 1,45% no Sudeste. Apesar de, em média, os custos atuais estarem em patamar inferior no Centro-Oeste, o avanço expressivo de alguns insumos e a valorização da arroba criam um novo ponto de equilíbrio na atividade.

A cotação da arroba do boi gordo ultrapassou os R$ 324,00 em São Paulo, com tendência de alta no mercado futuro, chegando a R$ 334,45 para agosto/25 na B3. Este movimento, aliado à demanda aquecida, está motivando o pecuarista a intensificar o uso do confinamento.

Segundo estimativas do setor, a intenção de confinamento deve crescer 18% em 2025, com previsão de mais de 8 milhões de cabeças engordadas em regime intensivo no país.

Custo por arroba e estimativas de lucratividade

Com base no ICAP de março e nos dados coletados junto aos pecuaristas atendidos, foi possível estimar o custo médio da arroba produzida. No Centro-Oeste, o valor ficou em R$ 204,13, enquanto no Sudeste chegou a R$ 210,64.

Mesmo diante dos desafios, esses valores indicam margens brutas positivas, com lucros superiores a R$ 820,00 por cabeça em ambas as regiões, considerando a cotação de balcão. A projeção não inclui bonificações adicionais por padrão de qualidade, rastreabilidade ou protocolos especiais, como o do Boi China — que, atualmente, oferece um diferencial entre R$ 5,00 e R$ 7,50 por arroba, dependendo da região produtora.

Eficiência como resposta ao aumento de custos

O cenário reforça a importância da gestão eficiente da nutrição animal, que representa boa parte do custo total do confinamento. A análise detalhada dos dados do ICAP ajuda o produtor a planejar com mais precisão seus custos e margens.

Apesar das pressões, os especialistas observam que a valorização da arroba, aliada a uma estratégia bem calibrada de manejo e nutrição, pode sustentar a lucratividade do setor mesmo em um ambiente de insumos caros.

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