Uma nova pesquisa revelou que a Amazônia e o Cerrado, dois importantes biomas brasileiros, são responsáveis por armazenar no solo uma quantidade impressionante de carbono orgânico. De acordo com a coleção beta MapBiomas Solo, essas regiões acumulam cerca de 28 gigatoneladas de carbono orgânico nos primeiros 30 centímetros do solo, o equivalente a aproximadamente 58 anos das emissões brasileiras. Esse estoque representa 74% do total nacional e destaca a importância desses biomas na captura e armazenamento desse gás de efeito estufa.
O estudo, que utilizou amostras do solo coletadas desde 1958 e mapeou o carbono do solo anualmente entre 1985 e 2021, revela que o Brasil perdeu aproximadamente 100 milhões de toneladas de estoque de carbono orgânico do solo ao longo desse período. As amostras foram compiladas no Repositório Soil Data, da Rede MapBiomas, um repositório público de dados abertos de pesquisas sobre o solo realizadas no Brasil. Os mapas e dados resultantes estão disponíveis na plataforma do MapBiomas Brasil.
Segundo Bárbara Costa, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e participante do estudo, “este é o primeiro mapeamento do Brasil que considera a dinâmica e os impactos das mudanças no uso e cobertura da terra sobre os estoques de carbono orgânico do solo ao longo da série temporal de 1985 a 2021. Os dados apresentados hoje são extremamente importantes para que a gente entenda como o uso do solo afeta e é afetado pelo carbono do solo. Assim, podemos compreender como práticas de manejo do solo e de pastoreio, por exemplo, influenciam as propriedades do solo e assim, podemos direcionar nossos esforços para a manutenção e conservação do solo como um importante sumidouro de carbono”.
A coleção beta do MapBiomas Solo foi coordenada pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em parceria com o IPAM, a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), juntamente com a ArcPlan, todos membros da Rede MapBiomas.
A pesquisa revelou que a Amazônia é o bioma com a maior reserva de carbono nas camadas superficiais do solo, armazenando cerca de 19,8 gigatoneladas em 2021. Deste total, 17,4 gigatoneladas estão nas áreas de cobertura florestal e 2,4 gigatoneladas em áreas de uso humano, como pastagens e lavouras. Em média, o bioma amazônico estoca 48 toneladas de carbono por hectare.
O Cerrado, o segundo maior banco de carbono do Brasil, possui aproximadamente 8,1 gigatoneladas armazenadas, com destaque para a região do Araguaia. As áreas de vegetação natural do bioma apresentam uma média de 41 toneladas de carbono por hectare mapeado.
É importante destacar que, no Cerrado, pastagens bem manejadas têm o potencial de superar os estoques de carbono orgânico do solo encontrados em áreas de vegetação nativa. No entanto, é fundamental ressaltar que o manejo adequado do pasto não deve ser visto como uma alternativa para a conservação e restauração da vegetação nativa, uma vez que a preservação dos ecossistemas naturais desempenha um papel crucial nos estoques de carbono orgânico do solo e na conservação da biodiversidade.
Outros biomas também foram analisados no estudo. O Pantanal, por exemplo, apresenta campos alagados que armazenam cerca de 44 toneladas de carbono por hectare, enquanto as demais áreas do bioma possuem aproximadamente 38 toneladas por hectare. Atualmente, o Pantanal comporta cerca de 0,6 gigatoneladas de carbono, sendo 0,1 gigatoneladas em áreas de uso antrópico.
Na Mata Atlântica, o aumento da cobertura vegetal do bioma e a implementação de práticas sustentáveis na agropecuária resultaram em um acréscimo de 0,1 gigatoneladas no estoque de carbono nos últimos 37 anos, o equivalente a 100 milhões de toneladas. No total, a Mata Atlântica armazena 5,5 gigatoneladas de carbono, com concentração em formações campestres, que apresentam, em média, 70 toneladas por hectare.
Por sua vez, a Caatinga e o Pampa possuem um estoque acumulado de 3,5 gigatoneladas de carbono. No Pampa, pesquisadores explicam que a agropecuária consolidada na região se concentrou em áreas de solo mais férteis, que são justamente as maiores reservas de carbono, o que pode justificar os maiores estoques de carbono do solo em áreas antrópicas.
Essas descobertas fornecem importantes subsídios para a compreensão da dinâmica dos estoques de carbono orgânico do solo e a influência das práticas de uso da terra. Além disso, ressaltam a necessidade de ações voltadas à manutenção e conservação desses biomas, que desempenham um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas e na preservação da biodiversidade.